Existe algum problema que seja mais persistentemente difícil para um cristão, especialmente um jovem cristão, do que descobrir a vontade de Deus?
Em conferências de jovens, quando pesquisas são feitas a respeito de assuntos sobre os quais pessoas jovens gostariam de discutir, este assunto está sempre no topo da lista. Ou este não é de forma alguma um problema, ou este é um mistério complexo e muito sério. Existem, é claro, aqueles cristãos não crucificados que metem o dedo em toda essa questão, sobre descobrir a vontade de Deus, e seguem seus próprios caminhos, levantando assim questões muito sérias sobre o fato de eles sequer serem cristãos. Mas a quem quer que leve a fé cristã a sério, esta é uma questão complexa e essa pessoa se sente perturbada com esta questão: “Como posso descobrir a vontade de Deus?”
É extremamente significante notar como essa questão é geralmente levantada. A Vontade de Deus é frequentemente entendida como algum tipo de programa. Esta ideia é refletida nas perguntas que são feitas: Como eu posso descobrir o que Deus quer que eu faça? Com quem Deus pretende que eu me case? Em que tipo de negócios Deus quer que eu me envolva? Qual linha de trabalho eu devo seguir? Onde eu devo morar?
Tais questões indicam que, nas mentes daqueles que as perguntam, o problema de encontrar a vontade de Deus se resume em uma questão de direção. “Como Deus indicará a mim a Sua escolha? Por quais sinais devo procurar de modo que eu possa saber, entre dois ou três possíveis objetivos, qual é o correto? O quanto as circunstâncias influenciam tais coisas? O quanto devo ser levado pelo que me acontece?” Estas são as perguntas comuns que são evocadas pelo assunto que envolve a vontade de Deus.
Desejo afirmar, de maneira inequívoca, desde o início deste estudo, que se nós nos aproximarmos do problema desta forma nós nunca chegaremos a uma resposta satisfatória. Estamos começando com o pé errado quando abordamos o assunto dessa maneira. Falo isso após anos de frustrantes experiências, durante os quais eu tentei descobrir a vontade de Deus apenas dessa maneira. Nunca cheguei a uma resposta até que percebi que eu estava me aproximando do problema de maneira errada.
Este é o caso com muitas das perguntas que nos confundem e nos deixam perplexos a respeito da vida cristã. Então, frequentemente, nós temos simplesmente feito a pergunta errada, e estamos nos aproximando da questão de maneira incorreta. Pois a vontade de Deus não é um programa, e sim um relacionamento. Não é o que você faz, é o que você é. Não é primariamente uma questão de direção (isso faz parte, admitidamente, mas é uma parte muito pequena), mas é realmente uma questão de aceitação. Já te confundi o suficiente?
A vontade de Deus é que vocês sejam santificados (1 Tessalonicenses 4.3, NVI)
Esta é a vontade de Deus, sua santificação! Agora, é imediatamente óbvio que o que quer que a santificação possa ou não significar (e esta é uma daquelas palavras confusas em nosso vocabulário cristão), ela tem a ver, pelo menos, com o que nós somos e não com o que nós fazemos.
O que queremos dizer quando dizemos que algo é santo? Olhe para a sua bíblia, e lá está escrito “Bíblia Sagrada”. O que a torna sagrada? A terra de Israel é chamada “Terra Santa”, e a cidade de Jerusalém é chamada “Cidade Santa”. Por quê? Existe uma qualidade que todas as três apresentam em comum. Todas elas pertencem a Deus. A Bíblia é o livro de Deus, Israel é a terra de Deus e Jerusalém é a cidade de Deus; elas são propriedade de Deus! É por isso que elas são santas: pertencem a Deus. Talvez uma das maneiras mais úteis de se expressar a vontade de Deus é colocá-la assim, de maneira prática. A vontade de Deus é simplesmente que você se torne Sua propriedade. “A vontade de Deus é que vocês sejam santificados; que vocês se tornem propriedade de Deus.”
Pedro afirma exatamente isso em sua primeira carta. Escrevendo aos cristãos dispersos, ele diz em 1Pedro 2.9:
Vocês, porém, são geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo exclusivo de Deus – NVI
É isso; um povo para a posse de Deus, propriedade de Deus, um povo que Ele possui. O pensamento é mais do que a ideia de que Ele te possui. Ele também carrega consigo o sentido de que Deus habita em você: você é Sua casa. Como Paulo coloca de maneira tão bela em sua oração em Efésios 3.17: que Cristo habite em seus corações. Esta é a vontade de Deus.
Ele é O Santo e é Sua presença em nós que nos torna santos. É o Seu habitar em nós que nos torna Sua propriedade, e esta posse se estende ao homem como um todo, a cada parte de seu ser. Veja como que Paulo nos apresenta isso, em 1 Tessalonicenses 5.23. Sua oração é:
Que o próprio Deus da paz os santifique inteiramente. Que todos o espírito, alma e corpo de vocês seja conservado irrepreensível na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. (NVI)
Que o próprio Deus da paz. É Ele quem nos torna santos; é Sua presença dentro de nós que nos torna Sua propriedade. A versão ampliada da oração de Paulo em Efésios 3 mostra isso de maneira maravilhosa: para que vocês sejam cheios de toda a plenitude de Deus.
A presença de Deus que habita em nós, em nosso espírito, alma e corpo é a vontade de Deus para nós, mas é algo inteiramente voluntário. O amor nunca nos obriga, e Deus é amor. Portanto, a vontade de Deus é que nós possamos voluntariamente permitir esta ocupação de nosso ser; corpo, alma e espírito. É a vontade de Deus pra você que Ele habite em você e lhe controle por completo. Mas você deve concordar com isso. Ele nunca forçará a questão.
Imagine, se puder, um homem ou mulher, garoto ou garota, cujo espírito, alma e corpo estejam incondicionalmente e sem reservas à disposição de um Deus que habita nessa pessoa e que está pronto para trabalhar através da mente humana e da vontade desse homem ou mulher, garoto ou garota. Se você encontrasse essa pessoa, quem você veria agindo, um homem ou Deus? Você veria Deus agindo, não um homem. Essa é a vontade de Deus para nós. Que nós possamos ser instrumentos de Sua vida para que outros vejam Deus atuando. Se você é esse homem ou essa mulher, garoto ou garota, e o Deus que habita em você é Jesus Cristo, o Filho Eterno, Senhor dos Senhores e Rei dos Reis, quem o mundo veria – você ou Cristo em você?
Agora nós estamos prontos para formular nossa primeira afirmação acerca do que é a vontade de Deus:
1- A vontade de Deus é uma posse permitida.
Não fale sobre encontrar o que Deus está pedindo de você: Uma submissão voluntária ao Seu desejo de habitar em você – corpo, alma e espírito – de modo que seu ser, sua humanidade redimida, possa ser a plena expressão de Sua vida. Você enxerga isso? Não fale sobre encontrar a vontade de Deus em quaisquer outros termos que não sejam este. “A vontade de Deus é que vocês sejam santificados”.
A pergunta de Deus a você é: “você deseja que isso seja verdade?” “Você concordará com isso?” É por isso que Paulo começa aquele maravilhoso capítulo 12 de Romanos com a exortação:
Portanto, irmãos, rogo-lhes pelas misericórdias de Deus que se ofereçam em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus; este é o culto racional de vocês. Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. (Romanos 12.1-2, NVI)
Esta é a vontade de Deus. Um corpo apresentado a Deus para Seu uso exclusivo. Como você se sente sobre isso? Você considera isso como uma invasão, ou uma interrupção de seus planos e de seu programa? Ou você considera isso como uma infinita honra que meras criaturas possam ser a plena expressão da santa e magnífica vida de Deus? Isto é o que Paulo chama de “cumprimento inteligente do propósito”.
Você jamais encontrará a vontade de Deus a menos que comece por aqui. Você já fez uma apresentação inteligente de seu ser (corpo, alma e espírito, e vidas emocional e mental) a Deus? Você já se apresentou como você é, um nada, de modo que você possa ter o que Ele é, tudo, e caminhar rumo a cada novo dia em uma completa expectativa de que Sua vida será manifesta em você? Isso é Cristianismo. Esta é a vontade de Deus.
Eu sei o que muitos de vocês estão pensando. Vocês estão dizendo: “Já escutei isso antes. Já conheci esta verdade, já fiz esta entrega, pra valer. Posso me lembrar, às vezes, mais de uma vez, quando me apresentei a Deus e disse ‘Senhor, aqui estou… me aceite, me use’, e disse cada palavra verdadeiramente. Mas no momento de pressão, quando a tentação veio sobre mim, quando eu deixei a igreja e me afastei do resto dos cristãos, por conta própria, em meio às pressões, frustrações e atitudes hostis do mundo, eu descobri que eu era muito fraco para fazer o que eu pretendia fazer. Eu sei qual é a vontade de Deus para mim, mas meu problema não é o que Deus quer que eu faça, mas sim como fazer isso”.
Quero que você saiba que não há ninguém mais ciente a respeito deste aspecto do problema do que o apóstolo Paulo. Leia o forte relato biográfico que ele nos dá no sétimo capítulo de Romanos e você verá que ele entrou por completo e profundamente neste senso de frustração neste ponto. Ele diz
nada de bom habita em mim… porque tenho o desejo de fazer o que é bom, mas não consigo realizá-lo (Romanos 7.18 – NVI).
Este é o problema.
Ele não se esqueceu deste aspecto ao escrever aos tessalonicenses. A questão sobre “como” está fortemente diante dele conforme ele escreve. Note os versos um e dois do capítulo 4:
Quanto ao mais, irmãos, já os instruímos acerca de como viver a fim de agradar a Deus e, de fato, assim vocês estão procedendo. Agora lhes pedimos e exortamos no Senhor Jesus que cresçam nisso cada vez mais. Pois vocês conhecem os mandamentos que lhes demos pela autoridade do Senhor Jesus. (1 Tessalonicenses 4.1-2, NVI)
Ele havia entrado por completo nesta questão com eles. Esta era uma base muito elementar no evangelho que ele pregou a eles. “Eu sei”, ele diz, “que não há proveito em dizer a vocês o que fazer sem dizer também como fazer, e eu disse isso a vocês”. Ele havia cuidadosamente dado a eles as instruções que ele havia recebido diretamente do Senhor Jesus Cristo, e eles já estavam seguindo aquilo. Ele diz Exatamente como vocês estão fazendo, façam ainda mais. Aquelas pessoas sabiam o “como” bem como o “o que”. E nós temos uma pista sobre o que estas instruções incluíam em matéria de “como” nesta frase: “agradar a Deus”.
Que tipo de vida agrada a Deus? Que ingrediente é absolutamente essencial antes que qualquer vida seja agradável a Ele? Talvez alguns de vocês já estejam pensando em Hebreus 11.6: “Sem fé é impossível agradar a Deus”. Note que não é dito que é difícil – diz que é impossível! Portanto, a vida que agrada a Deus é a vida que é vivida pela fé. Esta é a qualidade essencial que Paulo havia passado aos cristãos tessalonicenses através das instruções dadas a ele pelo Senhor Jesus Cristo. Eles deveriam viver uma vida de fé.
Fé, neste contexto, significa simplesmente crer que a visão de Deus acerca de determinado assunto é verdadeira apesar do que todos dizem. A maneira como você olha para a tentação faz toda a diferença do mundo no poder que ela tem sobre você. Se Deus diz que algo é ruim e nós dizemos que é bom, logo estaremos fazendo aquilo e estaremos debaixo do poder daquilo que fazemos e vice-versa. Se Deus diz que algo é bom e nós dizemos que aquilo é ruim, nós nunca descobriremos a glória nem a liberdade contida naquilo.
A fé crê que, na cruz de Jesus Cristo, Deus tomou sua antiga vida, recebida de Adão, e a julgou como não tendo bem algum em si mesma, sentenciando-a e condenando-a. A fé crê que não existe nada em você que seja bom por si só, que suas habilidades e conhecimento, qualidades que o mundo possa aplaudir e aclamar como maravilhosas, são realmente inúteis em produzir aquilo que possa ter qualquer valor à vista de Deus. E a fé crê que em lugar disso Deus te deu uma base totalmente nova de operação de modo que agora você não esteja mais tentando ser bom por seu próprio esforço, mas você agora está colocando em prática a promessa de Deus de fazer em você e através de você aquilo que você não pode fazer por conta própria, que é simplesmente tudo.
Você entende este princípio? Você pegou a diferença entre você tentar o seu melhor esforço humano para fazer algo por Ele, e Jesus Cristo fazer o Seu melhor esforço divino através de sua humanidade obediente? Você descobriu isso?
Confira no proximo post a segunda parte de "Como fazer vontade de Deus!"
(Fonte: RayStedman.org - Tradução de Tiago Neves)